
Com as nossas fotografias estaremos a fazer História?
Compartilhe












Lá para o final deste ano 20 20, iremos chegar à conclusão de que uma das mais célebres palavras, ou neste caso duas, serão: "passeio higiénico".
Na verdade, para mim, parece já ter chegado o momento em que só apetece amaldiçoar/trucidar/aniquilar expressões como: "Vamos ficar todos bem", "Juntos somos mais fortes"... Bolas, vamos ficar economicamente mais pobres e, assim espero, espiritualmente mais fortes. Ontem ouvia a fotógrafa Ana a assumir mais ou menos isto: "encomendava imensa comida, agora estou a cozinhar e a poupar imenso." De repente, estamos a fazer um "aprendizado" (como dizem os brasileiros, acho muita graça a esta palavra), estamos a repensar muitas coisas. A deixar que o essencial ganhe ao acessório.
Estamos a achar os encantos desses ditos "Passeios Higiénicos". O Zézinho e o João encontraram nessas caminhadas um simples buraco, a que chamam umas vezes a "base" outras o "templo dos caracóis". Essa fotografia que o papá Jorge publicou hoje no facebook suscitou um curioso comentário por parte do nosso amigo e professor Jorge Prata
É esse comentário que transcrevo, com a prévia autorização. São palavras de um professor, amante da Época Mediéval, menos deslumbrado com o ensino, mas sempre com olhar atento e curioso sobre o presente:
"Porque a imagem precisa de texto e, de Certa Forma, não existe sem ele. Quando se diz que "uma imagem vale mais que mil palavras", o que me parece que se significa é que a imagem contém em si (a imagem é como um campo de possibilidades concretizáveis. Umas concretizam-se, outras não) a possibilidade de gerar "mil palavras", diferentes, contrárias, contraditórias... Mas se não "gerar palavras", desvanece-se na insignificância, na medida em que se mantém como um mero campo de possíveis não realizados. Só isto (esta característica intrínseca à imagem) devia bastar para nos fazer perceber que o ensino na Idade Média era muito diferente daquilo que dizemos que era. O famoso "Magister Dixit" é nosso, da "escola-do-nosso-tempo", não da Medievalidade, na qual o próprio texto era "imagem" (isto porque o teu texto-imagem me remete para que estamos a fazer do ensino: 'dentro de poucos anos' será, pare eles, um mero e irrelevante buraco).
Abraço, e uma Páscoa feliz para toda a família."
8 de abril de 2020
Aline